Por mais que doa, largar ainda nos dói mais!
Cai no chão, magoei mais do que o corpo mais que o espírito, magoei o ser que sou. Destrui-me..
Estava num buraco profundo cheio de terra negra e húmida, nitidamente num primeiro olhar pensei que estava num túnel, numa passagem qualquer que iria dar a um lugar diferente, a um sitio que até poderia ser melhor do que este onde estou mas, enganei-me.
Tentei trepar pelo buraco a cima, coloquei uma mão seguida de um pé, pensei que estava a ser capaz mas não, cai no chão e levei com vestígios dessa mesma terra na cara, no corpo no interior de mim...
Feri as mãos de tanto tentar subir, de nunca ceder quando pensei que esta certo, que a solução era naquele sentido. Tentei, tentei e voltei a tentar quando a razão falava mais alto. Quando consegui chegar ao solo deixei de lado a aparência com que iria surgir mesmo sabendo que estava roto, com um ar desmazelado e moribundo. Senti os olhares, sentimentos de repulso e nojo, mas mesmo assim sentia-me bem, no final de contas tinha conseguido.
Não me recordava de quanto tempo tinha lá estado, de quantas vezes tentei subir e cai no chão quantas vezes chorei.. Estava feliz comigo mesmo, tinha conseguido voltar a ver o sol, a sentir a brisa do ar fresco a percorrer a face o corpo exausto. Tinha conseguido sozinho, com as mãos que insistentemente olhava e via nelas as feridas que tinham surgido ao longo do trilho percorrido e que tanto orgulho nelas hoje tenho. Mais uma vez sozinho sem que ninguém estendesse a mão no momento em que até o mais frágil braço poderia resultar em salvação. A pena destas pessoas que agora me olham apenas fazem-me sentir ódio, pois não é com essa pena que consegui sobreviver, sorrir e até mesmo sonhar, foi a força de vontade de um dia ser capaz de olhar para as vossas caras e dizer: - Aqui estou, sou a prova viva que mesmo sem vocês e com dificuldades aqui estou!
Ontem fiz parte do passado, hoje faço parte do presente, amanhã é mais um enigma e uma batalha para vencer...
Arquitecto nos meus sonhos o nosso encontro, aspectos que eu gostaria que estivessem lá no momento certo, na altura certa….
Gostava de ter coragem de ir ter contigo, abandonar tudo e todos, entregar-me por completo… Acho que é nessas mesmas alturas que vejo a minha falta de entrega para contigo, não sou capaz de partir em busca de ti, de deixar para trás o meu mundo e partir em busca do teu… Gostava de ser corajoso, nem que fosse uma única vez, não para mostrar ou fazer-te ver que era capaz, era mesmo para fazer ver-me a mim…
Sabes, por incrível que pareça, tenho estado constantemente a imaginar o nosso encontro.. Quando fecho por breves minutos os olhos, vejo-me num carro, caminhando por uma longa e larga estrada de terra batida.. Passados instantes, encontro-me num daqueles autocarro antigos, onde o seu interior tem aquele cheiro a pó entranhado nos bancos, que já foram mais que usados pelos seus utentes… Encontro-me junto a uma janela, vejo amigos e familiares dizendo-me adeus com sorrisos e cabeças cabisbaixas... Penso se estarei a fazer o correcto, mas não desisto… O autocarro parte e fica no ar aquela característica nuvem de fumo espesso que não deixa ver nada nem ninguém.
No banco, anseio pela chegada, mas ao mesmo tempo, o receio de receber uma má recepção assombra o pensamento.. Será que devia estar aqui??? Será que gostas mesmo de mim??? Questões que sobrepõem-se umas as outras… Passo por cidades e aldeias que nunca em tempo algum imaginaria passar, afirmando mesmo nunca ter ouvido tais nomes. Começo a ver a estrada como as estradas que existem no deserto, onde apenas focalizamos ou tentamos focalizar o final da estrada, deixando todo o resto para um plano secundário…
O autocarro pára. Acho que cheguei ao destino.. Saio lentamente, com medo da tua reacção.. Vejo muitas famílias e pessoas à espera de alguém, imagino se estarás a fazer o mesmo, ou assim gostaria que fosse… Todas as pessoas que estavam comigo foram embora, vejo-me sentado num banco esperando que viesses ter comigo… Ouço ao longe passos, levanto-me repentinamente e coloco-me a estreita para ver se és tu… O escuro atrapalha a visão.. Começo a correr ao teu encontro, mas começo a deixar de ouvir os passos, começo a sentir o gélido frio a subir-me espinha a cima… Começo a notar que estou só, que quando devia ter tido coragem para dizer todo o que sentia foi cobarde, não foi capaz de admitir que te amava e que queria partilhar o meu mundo com o teu… Caio de joelhos no chão… O escuro tomou conta da minha imagem…
Acordo repentinamente e vejo que isto todo não passou de um sonho… Será isto um aviso para ir em frente ou para abandonar todo….
Sinto-me tão só nesta cama tão imensa…
Sinto-me culpado por nunca te ter dado um beijo com amor…
Sinto-me culpado por nunca te ter feito feliz, como tu me fazias sentir…
Sinto-me culpado por um dia te ter dito que estava todo bem…